sexta-feira, 19 de julho de 2013

DEZ LIVROS IGNORADOS

Minha crónica publicada no último JL:

Em Portugal publica-se um livro em cada meia hora. Há cada vez mais títulos novos, embora as tiragens médias estejam a descer. Como os negócios da distribuição e comércio tradicional do livro estão em declínio, há muitos livros que não chegam aos leitores. Dou conta de dez livros mais ou menos recentes, sobre ciência ou à volta de ciência, que valem a pena serem lidos, mas que não tiveram grande difusão. A ordem é a alfabética do apelido do autor.

- Jorge de Alarcão, As Pontes de Coimbra que se afogaram no rio, Coimbra: Ordem dos Engenheiros, 2012.

Da autoria de um dos maiores arqueólogos portugueses, especialista do romano, um livros sobre as antigas pontes de Coimbra, numa edição muito cuidada e de formato original.

- Miguel Soares de Albergaria, Condições de atraso do povo português nos últimos dois séculos, Lisboa: Palimpsesto, 2012.

Um ensaio, muito bem fundamentado e arguido, sobre o famoso problema do atraso português, a “ferida” onde Quental pôs o dedo. Neste livro, duas causas sociológicas são apontadas para o declínio económico: a temporalidade tradicional e a desvalorização do realismo. Isto é, nem lidamos bem com o tempo, nem sabemos bem ver o real.

- João Maria André, Multiculturalidade, identidades e mestiçagem: o diálogo intercultural nas ideias, na política, nas artes e na religião, Coimbra: Palimage, 2012.

Um filósofo da ciência da Universidade de Coimbra e também encenador e autor teatral trata com erudição e profundidade o cruzamento de culturas no mundo globalizado de hoje, num conjunto de textos.

- Cristina Brito e Inês Carvalho (editoras), Cetáceos de Portugal: Passado, Presente  Futuro. Lisboa: Escola de Mar, 2012.

Um livro em bom papel e muito ilustrado sobre os mamíferos marinhos que habitam as nossas costas, que abrange, numa ‘pluralidade de registos de biólogos, oceanógrafos,  e ecologistas,  tanto os golfinhos do Sado como as baleias dos Açores.

- Palmira Fontes da Costa, Manifesto para uma Nova Química, Caldas da Rainha: Palavrão, 2011.

No Ano Internacional da Química, celebrado em 2011, uma historiadora de ciência da Universidade Nova de Lisboa publica em português. Devidamente prefaciado e comentado, num livrinho com muito bom design, o Discurso Preliminar do Traité Elementaire de Chimie de Antoine-Laurent Lavoisier, o “pai” da Química, que nunca tinha sido traduzido em português.

- Augusto José Fitas e outros (editores), A Actividade da Junta de Educação Nacional, Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2012.

Historiadores de ciência da Universidade de Évora publicam os resultados de um colóquio realizado naquela Universidade em 2011 sobre o organismo, criado em 1929, que antecedeu a actual Fundação para Ciência e a Tecnologia e o Instituto Camões.

- António Luís Isidoro, Histórias para um livro sem nome. Histórias da vida clínica de um médico, Óbidos: Sinapis, 2011.

Uma adição à literatura sobre medicina por um médico do Hospital de Aveiro que, formado em Coimbra, correu o mundo, incluindo Macau,. S. Tomé e Príncipe e Timor (a experiência timorense deu um livro à parte: Timor 1999). Em fotografias imagens do 25 de Abril e do 1 de Maio de 1974 em Coimbra.

- Emídio Queiroz e Lopes (tradução e notas), Tratado Elementar de Química de Antoine-Laurent Lavoiser, Sociedade Portuguesa de Química, 2011.

No Ano da Química, e patrocinada pela Sociedade científica que entre nós liga os praticantes dessa disciplina, eis numa tradução muito cuidada, em dois volumes, um clássico da história da ciência (o tradutor já nos tinha dado outros clássicos). E lá está o Manifesto ou Discurso Preliminar, que chegou portanto em duas traduções. Não há mal que sempre dure.

- António Serralheiro, O Vulcão da Malveira, Lisboa: Chiado Editora, 2012.

O autor, geólogo, publicou teses sobre vulcões de Cabo Verde e o antigo vulcão de Lisboa. O subtítulo da capa é convidativo: “Sabia que Lisboa e arredores foram construídos sobre um complexo vulcânico?” Venha conhecer este vulcão alfacinha ao pormenor”.

- Carlos Marques Simões, Giordano Bruno: O Filósofo Errante. Lisboa: Vírgula, 2011.

Uma pequena biografia do teólogo e filósofo que em 1600 foi queimado em Roma pela Inquisição, da autoria de um professor de Psicologia, que trabalhou na Universidade do Algarve, e que hoje, aposentado, preside ao Conselho de Fundadores do Instituto Giordano Bruno, com sede em Faro e cujo fim é a promoção das ciências e das artes.


4 comentários:

perhaps disse...

Obrigada pela lista. É um gosto ouvir e ler João Maria André

augusto kuettner de magalhaes disse...

Sempre com boas sugestões de leitura quando cada vez se quer menos ler.
Muito Bom.

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

o serralheiro está vivo?

bolas 1927 até à diamang e volta é muito tempo....

e só acabou o lyceo em 48 tivesse começado mais cedo tínhamos dois livros a mais sobre o complexo vulcânico de lisboa

e sendo complexo deveria ter escrito sobre venha conhecer estes vulcões e não um vulcão só

afinal lisboa é grande e mesmo supervulcão tem dias e muita chaminé da mota

Cláudia da Silva Tomazi disse...

A princípio o livro despertara uma notável ansiedade ao conhecimento que traduz-se da animada experiência a leitura. Esta é a resposta que refresca o sentido e vêm ao propósito de saber.

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