domingo, 28 de outubro de 2012

Mo Yan


 Novo texto de Ângelo Alves:
   
   Inês Pedrosa, na sua crónica no jornal “Sol”, escreveu que o chinês Mo Yan (Nobel da Literatura) não estava à altura do prémio pela ausência de qualidade da sua escrita e por pertencer a um regime opressivo, onde se pratica a pena de morte, tolerada pelo mesmo autor.

   Em relação ao primeiro ponto, como ainda não li nenhum livro deste autor e, tanto quanto sei, apenas se encontra um editado em Portugal (acho que esgotado), obviamente não vou opinar sobre o que ignoro; quero, todavia, lembrar à senhora Inês Pedrosa que Sir Winston Churchill e Sir William Golding, cuja boa parte da obra de cada um li, não mereceram a distinção. Em contraponto, G. Orwell, D.H. Lawrence e E.M. Forster não obtiveram o Nobel porque um foi anarquista, o outro crítico feroz do puritanismo e da hipocrisia da sociedade britânica, e aqueloutro homossexual.

    Quanto ao segundo ponto, estou em completo desacordo com a nossa escritora. Para mim a qualidade da escrita e o génio do autor são motivos mais que suficientes para a atribuição. Por exemplo, Knut Hamsun, escritor de que gosto muito, foi apoiante do nazismo assim com L.F. Céline, que não teve a mesma fortuna do primeiro. Já agora, gostaria que Inês Pedrosa lesse os americanos Sinclair Lewis e T.S. Eliot - se ainda não leu -, para saber a opinião destes autores sobre a pena de morte. Pretender misturar o sentido político do autor com literatura para justificar o Nobel (ignóbil, segundo a mesma) não é o caminho certo. Foi por este motivo que José Saramago foi tão perseguido neste país, que Urbano T. Rodrigues ainda não ganhou o prémio Camões, assim como A. Ramos Rosa, cuja poesia está ao nível dos romances de A. Lobo Antunes, e que Jorge de Sena só por nos apelidar de "povo reles” nunca tivesse sido proposto para o Nobel.

    A ditadura, cara escritora, também existe onde não há justiça e igualdade. Liberdade sem pão é prisão, ou como escreveu Pessoa: quem tem um corpo não é livre.

    É verdade que a nossa língua é menosprezada pela academia sueca, que, nos últimos quinze anos, atribui o prémio revezadamente: a um país muito premiado e a um outro estreante. Mas o que dizer da injustiça da academia em relação à literatura da Argentina?

Ângelo Alves

   P.S: Li recentemente uma antologia de Jorge de Sena escolhida por Eugénio Lisboa e gostaria que ele me esclarecesse se, no poema “As Mãos Dadas”, o autor escreveu a interjeição “ai”ou o advérbio “aí”, como tenho visto na blogosfera:

"Um dia me falaste,
e as árvores morriam galho a galho seco.
Havia flores, recordo.
Havia ruas, ai também recordo.
E escadas
vazias.
Não me falaste, não.
Fui eu quem perguntou,
beijando-te tremente, quantos anos tinhas,
e o teu nome.
Não tinhas nome; ou tinhas, mas não teu.
E a tua idade, as tuas mãos nas minhas"

3 comentários:

Blondewithaphd disse...

Excelente texto! Obrigada.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

A língua portuguesa nem fora desprezada pela acadêmia sueca. Entretanto, há quem presumi do artifício, isto é ser livre?! Embora a riqueza que dispõe a língua portuguesa e cito da riqueza, consistente riqueza e natural riqueza, diga-se do recurso e contraste de expressão; deveria suprir, suprir e suprir fazendo da herança justa, por justa em justiça fazenda. De modelo Nóbel a exigência o escritor José Saramago, extrapola na coerência lingüística e alcançá-lo do quê, a tarefa possível e sim, verdadeira dedicação. A literatura é uma terra sem espanto! É a fronteira amada o desconhecer limites. A língua portuguesa é incisiva e decisiva, é construcção e propriedade, é carinho e lealdade.

Anónimo disse...

Brilhou Cláudia...

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