quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Exomuseu da Natureza

Novo texto do Professor Galopim de Carvalho, com os nossos agradecimentos:

  Museu do Quartzo, no Monte de Santa Luzia, em Viseu

Em 1983 fui designado pelos meus pares da Faculdade de Ciências de Lisboa para dirigir o Museu Mineralógico e Geológico, parte importante do que foi o Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa [1], que também dirigi, a partir de 1993 e até 2003, praticamente confinado às suas paredes, na sequência do grande incêndio de 1978.

Um tal vazio e inexistência, ao tempo, de qualquer propósito de recuperação, não obstante as promessas, por parte das sucessivas tutelas, deixaram-me espaço para conceber um outro tipo de musealização que me conduziu à ideia de uma estrutura a que dei o nome de Exomuseu da Natureza, visando a geo e a biodiversidade.

Concebida como um conjunto de ocorrências naturais, esta estrutura museológica, geograficamente dispersa, pode ser coordenada a partir de uma dada instituição (um museu, uma autarquia, uma universidade, uma fundação) que as identifica, inventaria e as aceita como “peças” que, como tal, protege, estuda, valoriza e explica ao visitante. Expu-la no 1.º Encontro Nacional do Ambiente, Turismo e Cultura, reunido em Sintra, em 1989, por iniciativa do Centro Nacional de Cultura, ao tempo da saudosa Helena Vaz da Silva.

No âmbito do património geológico, entre essas ocorrências, consideradas como pólos do dito exomuseu, estão os geossítios e os geomonumentos localizados em pontos diversos de um dado território. Sendo evidente que tais ocorrências não cabem, fisicamente, dentro do edifício de um museu convencional e tendo em atenção que o seu enquadramento natural, no local onde se encontram, é essencial à sua compreensão, elas têm, forçosamente, de permanecer fora das paredes da referida instituição.

É esta particularidade, que sai fora do conceito tradicional de museu, que determinou o neologismo, no qual o prefixo exo, do grego ekso (fora, de fora, por fora), a distingue de um outro tipo – o ecomuseu – já conhecido do grande público. No âmbito da geodiversidade, o exomuseu abarca, ainda, todas as ocorrências que, embora tenham sofrido intervenção humana, continuem a ser considerados como documentos da história da Terra e da Vida, como são, por exemplo, as minas e as pedreiras abandonadas.

Passadas mais de duas décadas sobre a sua formulação, o exomuseu é hoje algo mais do que um nome ou do que uma ideia. Não tendo ainda realidade jurídica, nem figurando nos dicionários, esta estrutura já existe no terreno, estando representada pelos vários geomonumentos entretanto musealizados, e nos textos oficiais dos compromissos assinados entre o Museu Nacional de História Natural e algumas autarquias. Alguns geomonumentos referenciados em Portugal estão hoje incluídos nesta estrutura museológica, nos moldes atrás referidos, mediante protocolos celebrados entre o citado Museu e as Câmaras Municipais de Évora, Lisboa, Setúbal e Viseu. Nos acordos assim concebidos, estes geomonumentos foram considerados pólos da Universidade de Lisboa nos citados concelhos.

Nestes, o cimo de uma colina granítica nos arredores de Évora é hoje o Núcleo Museológico do Alto de São Bento, em funcionamento efectivo e permanente ao serviço, sobretudo, das escolas da região. Na cidade de Lisboa foram musealizados e estão em vias de o ser, uma série de geomonumentos. O sítio da Pedra Furada, recuperado e explicado ao público, é uma realidade em Setúbal. O Museu do Quartzo, na pedreira de Santa Luzia, em Viseu, inaugurado em Maio deste ano, está a ser um sucesso, com milhares de visitantes, com particular relevo para estudantes e professores das escolas de todo o país. Mas os projectos não param, estando em curso as diligências visando a musealização de dois geomonumentos no concelho de Sesimbra e um na cidade de Aveiro.

Outra sorte não tem tido o Museu e Centro de Interpretação de Pego Longo (Carenque) – a grande jazida com pegadas de dinossáurios do Cretácico - com projecto iniciado há mais de vinte anos e aprovado, pela autarquia sintrense, em 2001, continua, lamentável e incompreensivelmente, a degradar-se e à espera de concretização e de poder constituir a fonte de receita turística que se lhe adivinha.

Galopim de Carvalho

[1] - Hoje convertido no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, por fusão com o antigo Museu de Ciência, com o qual partilhava o espaço da antiga Escola Politécnica.

1 comentário:

Anónimo disse...

as despesas são sempre superiores às receitas

que o diga a pedreira do galinha apesar da peregrinação em massa das escolas nos idos de 2000 e seguintes

ou o fluviário de Mora com custos em transportes e juros da investimenta muy superiores às receitas

Ou um palácio da incultura renovado por 8 milhões e meio, que só precisa de um milhão de visitas a 8 euros o bilhete
para pagar os juros e amortizar metade do palacete até precisar de obras novamente em 2020...

com 500 e tal lugares
são só precisas 20 mil sessões

a 4 por dia ou mesmo 5....com a sessão das 4 da matina só para gente que gosta dos putos já dormentes

são só 4.000 dias uma bagatela

em 8 anos fazemos 4000 dias de certeza...

NOVA ATLÂNTIDA

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