sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

HÁ HIGGS? OU NÃO?


Minha crónica no Sol de hoje:

O ano de 2011 chega ao fim sem ter sido detectada na maior experiência do mundo, no CERN, na Suíça, a famosa partícula de Higgs, a que alguns pomposamente chamam “partícula de Deus”. Resta a esperança de que, em 2012, se assista à descoberta dessa partícula. Mas ela poderá também não aparecer, sendo nesse caso necessário explicar por que é que não aparece.

A partícula de Higgs é prevista pelo chamado “modelo padrão” de Física de Partículas, o melhor modelo teórico actual. É necessária para explicar a massa das partículas fundamentais, segundo um mecanismo proposto nos anos 60 pelo físico teórico escocês Peter Higgs e outros. Se o mecanismo for comprovado é bem provável que este físico venha a receber o Prémio Nobel de Física, em conjunto com o director da numerosa equipa experimental que o consiga comprovar.

Steven Weinberg e Sheldon Glashow, dois Prémios Nobel da Física por terem proposto teorias de unificação de forças confirmadas no CERN, estão cautelosamente optimistas, o segundo mais do que o primeiro. Declarou Weinberg à revista Nature que “existem outras possibilidades”, já que o mecanismo de Higgs tem alternativas, ao passo que Glashow comentou que o Higgs ou se “encontra nos próximos dois anos ou então não existe”.

Dois gigantescos detectores no CERN – o ATLAS e o CMS – têm estado a recolher dados provenientes de colisões de protões com protões a velocidades próximas da da luz. Num anúncio público a 13 de Dezembro, representantes dessas equipas não puderam mais do que afirmar que a massa do Higgs, dando de barato que ele existe, se situa entre 116 e 130 Gigaelectrõesvolt (GeV), uma unidade de energia. Um excesso de “sinal” à volta de 125 GeV causou algum alvoroço na comunidade dos físicos, mas poder-se-á tratar de mero “ruído” estatístico. Não é ainda uma descoberta da almejada partícula pois pode bem ser uma obra do acaso. A acumulação de mais resultados permitirá uma estatística melhor. A análise de dados não é fácil uma vez que o hipotético Higgs deve decair imediatamente, sendo necessário derivar a sua existência a partir de um chuveiro de partículas emergentes. Já alguém comparou a experiência do CERN à colisão muito violenta de um relógio suíço com outro, sendo o trabalho dos físicos o de tentar adivinhar um dos mecanismos do relógio a partir do exame de uma multidão de diminutas peças espalhadas por tudo quanto é sítio.

Há Higgs ou não? Acreditar ou não na “partícula de Deus” não é uma questão de fé. A experiência é que vai decidir – ou sim ou ou sopas – provavelmente até ao fim de 2012, quando a máquina terá de ser desligada para revisão técnica. Se até os maiores nomes da Física são incapazes de dar certezas nesta matéria, não me arrisco a fazer prognósticos. Só no fim do jogo.

tcarlos@uc.pt

1 comentário:

Carmem disse...

Professor,

Que significa exactamente para a ciência e para as nossas vidas quotidianas se existe ou não a partícula de Deus?

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